Partido Alto

.

Concebido em estreita colaboração com Paulinho da Viola, Partido Alto, de Leon Hirszman, o filme é um significativo documento histórico.

Sincera homenagem à ”expressão mais autêntica do samba”, como Candeia define esse gênero musical, marcado por improvisações, o documentário, rodado em 1976,  além de fixar a manifestação de certa pureza musical, a simplicidade e a comunhão da gente do samba com depoimentos marcantes da velha guarda, firma a posição contra a crescente padronização do samba, imposta pelo mercado.

_

Veja também no Caderno ENSAiOS:

Heitor dos Prazeres

Argumento

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro

Amor na sala vazia

Da série Pequenos apontamentos noturnos

Por Theotonio de Paiva

AmourVenho de assistir Amour, de Michael Haneke.

Numa tarde chuvosa, olho na saída do cinema para a enseada de Botafogo. E me vejo completamente sozinho numa sala cheia onde não mais se rebobinam as fitas. Não temos mais fitas, reconheço. E me deparo novamente com a dor implacável da nossa existência, da minha existência, da tua existência.

Os anos que se passaram, a decrepitude e a anatomia cruel da morte nos chegam pelas mãos de quem se acostumou a não transigir. Embora com uma inefável compaixão pelas suas criações indefesas, Michael Haneke é incapaz de ceder à tentação barata de mitigar ou amenizar o que se mostra desagradável, por vezes repugnante. É assim e, então, se mostra.

A história de amor e morte dos dois velhos músicos não cabe na tessitura dramática de quem há tempos abandonou a esperança. Tudo soa perturbador. Nada virá dos céus para nos reconfortar como se não pudéssemos saber da terrível notícia. A própria catarse é estrategicamente demovida com o final anunciado no começo barulhento de tudo.

Na tela, dois atores fabulosos no exercício da sua profissão. Emmanuelle Riva, de quem recordo com olhares juvenis, pasmado frente aos seus encantos em Hiroshima mon amour, de Alain Resnais, num roteiro comovente de Marguerite Duras. Lembro dela quando assisti uma cópia já surrada na antiga Cinemateca Macunaíma, no nono andar do prédio da ABI, aqui no Rio. E Jean-Louis Trintignant, cujas lembranças se confundiam em mim numa série de filmes, até se firmar na imagem do beijo em Anouk Aimée, em Un homme et une femme, de Claude Lelouch. E aquela musiquinha intragável.

E os dois, ali, imensos, gigantes, a se revolverem até mais não poder, não mais existir, não mais fazer sentido. Na ausência de tudo, resta o apartamento igualmente vazio, preenchido pela presença da filha, espectadora da tragédia, assim como eu e você.

.

_

Veja também no Caderno ENSAiOS:

Hexecontalito

No meio do caminho

Pequenos apontamentos noturnos

Evoé – Retrato de um antropófago

_

Um filme que mistura de forma labiríntica depoimentos recentes e imagens históricas da carreira do o diretor, ator e dramaturgo Zé Celso, do Teatro Oficina, uma das maiores personalidades das artes do Brasil de todos os tempos.

O documentário adquiriu o seu verbo principal em quatro viagens a pontos chave da trajetória do Zé: Sertão da Bahia, Praia de Cururipe em Alagoas (onde o Bispo Sardinha foi devorado), Epidaurus e Atenas, na Grécia e o apartamento de São Paulo.

Com acesso livre ao infindável e sempre crescente arquivo de imagens e sons do Grupo Oficina, misturados com imagens contemporâneas, constrói-se aqui uma visão muito particular e instigante, que resulta num filme estimulante e num documento mágico para hoje e para sempre.

Sem legendas, sem datas aparentes e sem didatismo, o filme é um fluxo potente de imagens e sons que deixam o espectador em estado de constante atenção.

EVOÉ, um filme antropofágico na sua essência, pode ser exibido de forma cíclica, pois não tem um começo e com certeza nunca terá fim.

Realizadores: Tadeu Jungle / Elaine Cesar

_

Veja também no Caderno ENSAiOS:

Nelson Rodrigues

O encenador e o teatro do nosso tempo

Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano)

Vestido de Noiva, por Antunes

O Poeta do Castelo

Versos de Manuel Bandeira, recitados pelo poeta, acompanham e transfiguram os gestos banais de sua rotina em seu pequeno apartamento no centro do Rio; a modéstia do seu lar, a solidão, o encontro provocado por um telefonema, o passeio matinal pelas ruas de seu bairro.

Direção: Joaquim Pedro de Andrade

Veja também no Caderno ENSAiOS:

Nelson Rodrigues

Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano)

Vestido de Noiva, por Antunes