Resposta de um grego para um alemão pela crise

Um amigo deste blog encaminhou essa maravilha de troca de cartas entre um alemão e um grego. Ambos os textos propõem uma bela polêmica, mas o humor fino do grego é inquestionável. Boa leitura.

Estas cartas apareceram no jornal semanário alemão “STERN”
Foram duas cartas sobre os problemas reais da crise econômica na Grécia. A resposta ao alemão da primeira carta é sensacional.
Isto, sem levar em conta o fato de que, considerando a “dívida total” na zona do euro não é a Grécia a maior devedora. A Holanda excede em 234%, Irlanda com 222%, Bélgica com 219%, Espanha com 207%, Portugal com 197%, Itália com 194%, etc.

Há alguns meses atrás, foi publicada uma carta aberta dirigida ao “Prezado grego” por um cidadão alemão chamado Walter Wuellenweber cujo título era:

Caro grego:
Desde 1981 nós pertencemos à mesma família.
Nós, alemães, temos contribuído para o Fundo comum, com aproximadamente de 200 bilhões de euros, sendo que só a Grécia recebeu cerca de 100 bilhões desse montante, ou seja, a maior quantidade per capita que qualquer outro povo na UE. Nunca, ninguém, voluntariamente, ajudou a este ponto outro povo e por tanto tempo.
Vocês honestamente são os amigos mais caros que temos. O fato é que não só VOCÊS enganam a si mesmos, COMO A NÓS também. Em essência, nunca provaram serem dignos do nosso Euro. Desde a constituição da UE e a moeda única, que a Grécia, nunca conseguiu satisfazer os critérios de estabilidade.
Dentro U.E. vocês são as pessoas que gastam as maiores somas em bens de consumo. Através da vontade das pessoas que em última análise, tem a responsabilidade. Não digam, então, que os políticos são os responsáveis pelo desastre.
Ninguém os forçou a não pagar os impostos por anos; que se oponham a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e, ninguém os obrigou a escolher os líderes que tiveram e têm. Os gregos foram os que nos mostraram o caminho de Filosofia, Democracia e os primeiros conhecimentos da Economia. Agora, estão a nos mostrar o caminho errado e, onde não conseguiram chegar!
Na semana seguinte, o JORNAL “Stern” publicou uma carta aberta de um grego, dirigida ao Wuellenweber:

Caro Walter:
Meu nome é Georgios Psomas. Eu sou um servidor público e não “funcionário público” como desdenhosamente como um insulto, vocês se referem aos  meus compatriotas e seus conterrâneos. Meu salário é de 1.000 euros por mês hein? Não pense você que é por dia, como te querem fazer acreditar em teu país. Note que ganho uma cifra bem menor que isso, porque desconto impostos e, certamente, o meu salário é muito, mas muito menor que o seu.
Desde 1981, você está certo, pertencemos à mesma família. Só que temos lhes concedido exclusivamente para VOCÊS ALEMÃES um monte de privilégios, TAIS COMO: os principais fornecedores de tecnologia do povo grego, armas, infra-estrutura (rodovias e os dois principais aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, carros, etc. Se eu esqueci alguma coisa, me perdoe. Gostaria de lembrar que dentro da UE somos os maiores importadores de produtos de consumo produzidos pelas fábricas alemãs.
A verdade é que não são só os nossos políticos os responsáveis pelo desastre da Grécia. Também contribuiu muito para isso, algumas grandes empresas alemãs, que pagaram altos subornos para os nossos políticos a fim de conseguirem os contratos citados acima, para vender tudo, até mesmo uns submarinos, alguns fora de serviço, que  posicionados no mar, logo afundaram ou emborcaram.
Sei que ainda não deve estar dando crédito ao que eu estou escrevendo. Tenha paciência, espera, leia a carta inteira e se eu não o convencer, eu autorizo a você me colocar fora da zona do euro, este que é considerado o lugar da verdade, prosperidade, justiça e direito.
Walter, meu caro Walter, passou mais de meio século desde que a 2ª. Guerra Mundial terminou, é mais de 50 anos, que a Alemanha deveria ter cumprido as suas obrigações para com a Grécia. Essas dívidas, que até agora apenas a Alemanha está relutante em resolver com a Grécia, (a Bulgária e a Romênia reuniram-se para pagar a indenização), são:
1. A dívida de DM 80 milhões para indenizações, que não foi paga desde a Primeira Guerra Mundial.
2. Compensação de dívidas para as diferenças no período entre guerras, num total de US$ 593.873.000 a valores de hoje.
3. Empréstimos forçados que fez o Terceiro Reich em nome da Grécia durante a ocupação alemã, que totalizaram 3,5 trilhões de dólares durante todo o período de ocupação.
4. Reparos que devem para a Grécia, para os confiscos, perseguições, assassinatos e destruição de aldeias inteiras, estradas, pontes, ferrovias, portos, produzidos pelo Terceiro Reich, e, como foi estipulado pelos tribunais, equivale a hoje a 7,1 trilhões de dólares, dos quais a Grécia não viu um centavo até hoje.
5. As reparações incomensuráveis da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38.960 mortos por banalidades, 12.000 mortos como dano colateral, 70.000 mortes em combate, 105 mil mortes nos campos de concentração na Alemanha, 600.000 morreram de fome, e assim por diante. Etc.).
6. A lesão moral enorme e imensurável causadas ao povo grego e aos ideais humanistas da cultura grega.

Eu sei que você não deve estar gostando nada do que estou escrevendo. Sinto muito! Mas, me incomoda muito mais o que a Alemanha quer fazer comigo e com meus conterrâneos. Amigo, operam mais de 130 empresas Alemãs na Grécia, dentro destas estão incluídas todas as gigantes da indústria de seu país, algumas com faturamento anual de 6,5 bilhões de euros.
Logo, se as coisas continuarem assim, infelizmente, não poderei comprar mais produtos da Alemanha, porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e meus companheiros crescemos sempre com a privação, podemos viver sem BMW, Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Vamos parar de comprar produtos da Lidl, de Praktiker, de IKEA. Mas, vocês, Walter, como vão gerir os desempregados que gerará esta falta de consumo?  Até você mesmo pode  ter que diminuir o padrão de vida, teus carros de luxo, as tuas férias no exterior, as excursões sexuais para a Tailândia, etc.
Vocês, (alemães, suecos, holandeses, e “companheiros” de outras Eurozona) querem que a gente abandone a Zona do Euro, a Europa e lá sei onde mais. Acredito firmemente que temos que fazê-lo mesmo, para nos salvar de uma União formada por um bando de especuladores financeiros, uma equipe que somente nos valoriza se nós consumirmos produtos que oferecem tais como: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras monumentais, e assim por diante.
Walter, finalmente, é preciso “consertar” uma outra questão importante, já que você também está em dívida para com a Grécia: “EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM”!
* Queremos DE VOLTA NA GRÉCIA as obras imortais de nossos antepassados que, VOCÊS GUARDAM NOS MUSEUS  em Berlim, Munique, Paris, Roma e Londres.
* E EU EXIJO QUE SEJA JÁ, AGORA,  Porque, JÁ QUE eu estou morrendo de fome, eu quero morrer ao lado das obras de meus antepassados.
Cordialmente
Georgios Psomas

11 pensamentos sobre “Resposta de um grego para um alemão pela crise

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  4. Caro Sr. Paiva,

    Achei o texto interessante. A resposta do Senhor Psomas à carta do Sr. Wüllenweber mostra bem o espírito das pessoas aqui na Grécia no atual momento, o que certamente é preocupante e triste, mas também revela uma grande ingenuidade ou desconhecimento sobre a realidade de seu próprio país. Confesso que acho chocante ver as correntes de desinformação que circulam na internet.
    Em relação às dívidas dos países-membros da União Européia há uma pequena curiosidade: mais importante que o tamanho da dívida é a capacidade que cada país tem de paga-la. Então a dívida da Grécia, que representa atualmente mais de 140% do PIB é um problema infinitamente maior que a dívida holandesa, que está na casa dos 65% do PIB.

    Nasci no Brasil, sou brasileiro e também cidadão holandês e atualmente moro em Atenas, no berço da civilização e agora berço de uma das maiores crises que a Europa já vivenciou. Vejo novos sinais da crise todos os dias nas ruas de Atenas, nas lojas fechadas e nos vários imóveis abandonados no centro da cidade. É uma situação deprimente. Porém, acredito que não devemos nunca perder o contato com a realidade. A crise na economia grega tem razões bem concretas e quase todas elas foram criadas pelo próprio povo e governo grego.

    Em artigo publicado pela BBC no dia 30 de novembro do ano passado, analistas econômicos comentavam os gastos desmedidos com os jogos olímpicos de Atenas, num momento em que a economia já não andava bem, como sendo os primeiros sinais da tragédia econômica que o país iria enfrentar. Deixo aqui o link: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111117_atenas_2004_crise_grega_tp.shtml

    A própria carta do Sr. Psomas dá várias pistas sobre alguns fatores que contrinuíram para o agravamento da crise. Como ele próprio diz, a maioria dos funcionários públicos recebe salários entre 1000 e 1500 euros por mês, o que numa cidade cara como Atenas é insuficiente, mas também é verdade que vários órgãos públicos criaram gratificações absurdas para complementar estes salários e ninguém parou para pensar que isso poderia afetar o orçamento do governo. Também ninguém parou para avaliar que a Grécia, com pouco mais da metade da população da Holanda, tem mais do que o dobro dos servidores públicos dos Países Baixos. No plano desenhado pela Troica para contenção do déficit grego um dos primeiros itens era a reorganização do setor público. Isso nunca aconteceu. Além do mais, a sociedade protestou de forma veemente quando a idade mínima para a aposentadoria passou para 65 anos, esquecendo que é simplesmente impossível ter o padrão de vida alemão e ao mesmo tempo se aposentar aos 45 anos de idade (como muitos fizeram) e viver mais 30 ou 35 anos às custas da previdência social.

    Também é verdade que a Grécia importa vários produtos da Alemanha, mas ainda assim não figura entre os paceiros de importação daquele país. Já as importações alemãs representam mais de 10% dos produtos exportados pela Grécia.

    Se os políticos gregos em algum momento aceitaram propina de empresas estrangeiras foi simplesmente porque a corupção na Grécia é endêmica. Ninguém obriga ninguém a se corromper e a culpa deste comportamento certamente não é dos alemães.

    A II Guerra… O tema preferido de 9 entre 10 gregos. Se os gregos se acham merecedores de uma indenização alemã, imagine o que judeus teriam direito de pedir! A guerra foi horrível para todos, como qualquer guerra sempre é. Até acredito que, no final, o país que mais sofreu com tudo isso tenha sido a própria Alemanha, que apesar da economia forte, carrega marcas até hoje. A Grécia sempre enfatiza que esta é uma página virada mas algo não andar bem por aqui e as consequências da guerra são imediatamente lembradas. A palavra-chave aqui é maturidade. Já passou da hora da Grécia encarar a realidade, assumir seus erros e efetivamente virar a página.

    Se as empresas alemãs geram mais de 6 bilhões de euros por ano (não conferi esta informação) é simplesmente porque produzem produtos de qualidade. O povo grego deveria tentar fazer o mesmo. Qualidade é um grande problema neste país e ninguém parece se importar com isso. Nenhuma empresa sobrevive sem ser competitiva, a não ser que você conte com subsídios do governo por décadas, como acontece por aqui, mas isso também custa muito dinheiro.

    Ao contrário do que o Mr. Psomas acredita, a vida de muitos gregos estaria ainda mais difícil se vários alemães não tivessem como destino de férias justamente as ilhas gregas, movimentando milhões de euros e empregando muita gente.

    A “expulsão” da Eurozona… O resto da Europa só pediu que a Grécia cumprisse as regras, o que nunca foi feito. Quando o país entrou em colapso a União Européia traçou um plano de resgate bilionário para a economia grega e ainda perdoôu uma parte significativa da dívida. O que acontece então? Os gregos se sentiram injustiçados! Injustiçado é quem trabalha para construir uma sociedade produtiva, paga todos os impostos e ainda tem que pagar por tudo isso, estes é que deveriam estar indignados. Não há o que comentar a este respeito.

    Os mármores do Parthenon! Eu concordo com o Sr. Psomas, acho que os mármores deveriam ser devolvidos. São realmente impressionantes e acredito que deveriam estar no museu da Acrópolis em Atenas e não espalhados pelo mundo. Porém, introduzir este tópico no meio de um assunto infinitamente mais sério como a atual crise denota apenas uma grande imaturidade e falta de auto-controle. Apesar de preciosos, ter os mármores em Atenas não mudaria em nada a atual situação. Novamente, a questão é ser realista.

    Pode não parecer, mas eu gosto muito de viver na Grécia. O país é lindo e Atenas, apesar de suja e caótica, é uma cidade culturalmente interessante. Pretendo aproveitar os anos que devo passar aqui (mais três) ao máximo e tenho certeza de que vou sentir falta de alguns aspectos agradáveis da cultura grega, mas acho também que a vida deve ser gerenciada com o mínimo de seriedade. Como todos sabem, não existe ação que não gere uma reação. O que acontece na Europa atualmente é um grande choque de realidade, que se for encarado com seriedade pode representar um passo definitivo para a construção de um bloco mais unido, estável e produtivo.

    Luiz Veloso

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  5. carta perfeita.
    fosse eu grega, diria exatamente isto e concluiria com um palavrão bem sonoro, tipo: e vá te…
    dá vontade, não dá?!

    e aquele probleminha de malware, ou algo do tipo, não apareceu agora. acho que o blog da simone sofreu do mesmo problema há algum tempo. sei que ela resolveu, só não sei como.

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