Partido Alto

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Concebido em estreita colaboração com Paulinho da Viola, Partido Alto, de Leon Hirszman, o filme é um significativo documento histórico.

Sincera homenagem à ”expressão mais autêntica do samba”, como Candeia define esse gênero musical, marcado por improvisações, o documentário, rodado em 1976,  além de fixar a manifestação de certa pureza musical, a simplicidade e a comunhão da gente do samba com depoimentos marcantes da velha guarda, firma a posição contra a crescente padronização do samba, imposta pelo mercado.

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Veja também no Caderno ENSAiOS:

Heitor dos Prazeres

Argumento

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro

O Encontro de Lampião com Eike Batista

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O Encontro de Lampião com Eike Batista

Letra e música: El Efecto

Duas coisas bem distintas

Uma é o preço, outra é o valor

Quem não entende a diferença

Pouco saberá do amor

Da vida, da dor, da glória

E tampouco dessa história

Memória de cantador

Reza a história que num dia

Daqueles de sol arisco

O bando de cangaceiros

Mais valente nunca visto:

Candeeiro, Labareda,

Zabelê e Mergulhão

Juriti, Maria Bonita

Volta-seca e Lampião

Enedina, Quinta-feira

Beija-flor e Zé Sereno

Lamparina, Bananeira.

Andorinha e o Moreno

Moderno, Trovão, Dadá

Moita Brava e mais Corisco

Pra mó de se arrefrescar

Margeavam o São Francisco

De repente um escarcéu

Aperreia todo bando

Um trem vem rasgando o céu

E na terra vai pousando

Do grande urubu de lata

Cercado por muitos hômi

Desce um gringo de gravata

Falando no telefone

Uns hômi tudo de preto

Peste vinda do futuro

Que pra não olhar no olho

Veste óculos escuro

Um se aprochegou do bando

Grande pinta de artista

Disse com ar de desprezo

Muito seco e elitista:

– “Calangada arreda o pé

Que agora isso é de Eike Batista!”

A peixeira já luzia

Quando o gringo intercedeu

– “Perdoem a grosseria

Desse empregado meu

Sou homem civilizado

Não gosto de violência

Trago papel assinado

Prezo pela transparência

A terra de fato é minha

O governo fez leilão

Eu que dei maior lance

Ganhei a licitação

Não sou nenhum trapaceiro

O que é meu é de direito

Mas como bom cavalheiro

Lhes proponho um outro jeito.”

Chamou Lampião na chincha

Prum papo particular

Uma proposta de ouro

Difícil de recusar

– “Vou ganhar muito dinheiro

Com um novo agronegócio

Emprego teu bando inteiro

Ainda te chamo pra ser sócio!”

– “Tu pode comprar São Paulo

E o Rio de Janeiro

Foto em capa de revista

Por causa do teu dinheiro

Ter obra no mundo inteiro

Petróleo, mineração

Mas aqui nesse pedaço

Quem manda é o rei do cangaço

Virgulino, Lampião!

Se tu gosta de x mais um x eu vou lhe dar no xaxado que diz

Se tu gosta de x mais um x eu vou lhe dar no xaxado que diz: chispa”!!

E os homi tudo de gravata desandaram a fugi

Subiru no urubu de lata e arredaram o pé dali

E até o Velho Chico cantou pra todo mundo ouvir:

Hay que, hay que, Eike, hay que, hay que, hay que resistir!

Duas coisas bem distintas

Uma é o preço, outra é o valor

Quem não entende a diferença

Pouco saberá do amor

Da vida, da dor, da glória

E tampouco dessa história

Memória de cantador…

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Créditos:

letra e música:
el efecto

vozes:
tomás rosati
bruno danton
diogo furieri

bateria:
tomás rosati

guitarras:
bruno danton
pablo barroso

baixos:
eduardo baker
alexandre guerra (fretless)

percussão:
bernardo aguiar

flauta:
karina neves

coro:
carolina thibau
conrado kempers
dandara catete
iuri gouvêa
karina neves
letícia catete
polly vieira
uirá bueno

gravação e mix:
tomás alem (estúdio músika)

edição de vídeo:
iuri gouvêa

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Presepada

Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano)

Vento bravo, com Tom e Edu

A diferença entre seis e meia dúzia

Por Theotonio de Paiva

Recebo mensagem de Vera, amiga lá de Minas.

Dizia mais ou menos o seguinte:  ontem, em visita diária à casa paterna, a fim de filar a comida da Nazareth, que é deliciosa, ouvi o explosivo comentário de meu pai, a propósito das eleições:

– Pra mim tanto faz, que é trocar seis por meia dúzia!

(Em tempo: o pai dessa amiga tem 80 anos. Talvez para alguns isso ainda signifique um “apesar de”, ou um “muito embora”. No entanto, pelo visto, ele continua muito ativo: é ligado ao seu tempo. Tanto assim, que lhe pediu links onde pudesse ler sobre o momento atual.)

Cena que segue.

Claro, pau na hora do almoço. Depois a pergunta cheia de incredulidade:

– Onde na internet tem estes artigos que você tá falando?!

No dia seguinte, acessaram juntos algumas indicações para salvar nos favoritos. Vera sugeriu que ele começasse justamente pelo meu blog.

Caramba! Caíram os meus arqueados ombros por terra. Senti o peso da responsabilidade: o meu internauta  agora tem nome e sobrenome.  Preciso começar a dialogar com alguém do outro lado da tela que bem poderia ser meu pai, o que muito me honra, diga-se de passagem. De fato, esse não é o problema. Contudo, ele exige do alto de sua experiência soluções rápidas. E em bom português.

Vira o rosto e segue, recomendou Virgílio a Dante.

O meu desgraçado poeta torto me obriga a pensar na mudança radical de conceito, e exclama: seis não é igual a meia dúzia!

Meia dúzia você encontra na feira, nas vendas de rua, nas bibocas, nas falas do povo.

Meia dúzia é gostoso de dizer. Cabe na boca que nem bombom oferecido pela namorada, beijo roubado, palavrão a mancheias para se livrar de uma praga lançada pelo vizinho.

Seis é pernóstico. Meio metido a besta, como se fosse algo diferente daquilo que verdadeiramente é.  Num fraque azul apertado sentencia para a vida, esquecido das suas origens.

É professoral. Pelo cachimbo usado não admite ser contrariado. E passa pito nos outros. Se deixar, emprega a palmatória  para não deixar dúvida de que ele – e somente ele! – é conhecedor da verdade. E assim encerra qualquer diálogo.

Frequenta as altas rodas, escravo dessa gente,  que só cultiva a hipocrisia, como cantava Noel.

Repara só: você já viu gente metida a ilustrada falar meia dúzia? Jamais!

Seisss… sibila como a fala de quem precisa gastar as consoantes desnecessariamente. Consoantes postas fora, como o dinheiro que se tem,  ou não se tem. Ou mais provavelmente ainda o que se amealhou dos outros. Porém – ah, porém!… – não, não foi um caso diferente: foi o mesmo dinheiro que não compra a alegria.

Meia dúzia é pachorrento, simpático, e não admite ser redundante. Simplesmente é. Correu mundo afora e foi reconhecido como uma medida diversa daquela que normalmente se usava para fazer as contas de achego. Talvez sussurrassem no seu ouvido de que ele é o cara. E ele riu. Em meio canto da boca.

Ao contrário, seis, às vezes, se põe de ponta a cabeça para enganar que é outra coisa. E quando faz a conta é nove vezes fora.

Vou ser franco, pai de minha amiga: seis parece a hora da vez. Mas a hora não tem vez. E você sabe disso. Ela faz parte do tempo . E este , diziam os antigos, não passa de uma criança brincalhona.

Meia dúzia acatou como poucos a sabedoria de que é apenas uma metade incompleta que precisa do outro. E do que precisa? Ora, meu caro,  necessita da fala das ruas, da alegria estrepitosa do balé pernóstico e licencioso de quem anseia urgentemente ter a sua vida espalmada na mão para ser dono de seu próprio destino.

E quando isso acontecer,  a nossa meia dúzia poderá gargalhar, pois o confundiram com uma máscara de ocasião. Ora se pode, logo ele, que morou na filosofia.