A tal da rede social

Por Theotonio de Paiva

É curioso como o processo de punição é compreendido e empreendido dentro de uma rede social. Pensa comigo, caro leitor, numa dada situação, na qual um sujeito é atacado por um determinado vírus, ou coisa que o valha, presente na própria rede. Em conseqüência disso, ele passa a transmitir involuntariamente mensagens e a realizar compartilhamentos e comentários a torto e a direito. A resultante disso, pela lógica desse sistema, é de responsabilizar… o próprio sujeito.

Assim, no momento em que escrevo esse texto, tenho a minha página no FACEBOOK censurada por exatos quinze dias. A razão? Eu me utilizei da prática de spam! Mas, como assim? Não foi involuntário? Perguntará o incrédulo leitor com o acontecido. Posso assegurar que assim foi. No entanto, o texto lacônico não admite dúvida, muito menos contestação: passamos assim a ser responsabilizados por uma ação de risco que a própria rede é quem deveria melhor administrar.

Com efeito, o que transparece na reação empreendida é de que não há razão para se ir atrás de quem primeiramente difundiu a epidemia virtual. Pela lógica que se depreende isso seria rezar contra o bom senso. E bom senso, já dizia o filósofo, é uma categoria que todos batem no peito dizendo que possuem quando efetivamente a prática de vida demonstra exatamente o contrário.

Num nível infinitamente mais sutil, cara leitora, trabalha-se com o mesmo tipo de sanção do século XIV, quando a peste negra invadiu a Europa. Ou, se quiser, pensando num tempo a frente, naquela época em que homens e mulheres eram identificados às imagens de seitas hostis, como as que foram projetadas aos leprosos, judeus bruxas e feiticeiros. Vigiar e punir, essa é a lógica. Simplesmente vaticinam a exclusão do indivíduo. E mais: se voltar a fazê-lo daqui a quinze dias, mesmo que involuntariamente, será desligado implacavelmente do convívio da terceira maior população mundial!

Não, caro leitor, isso não é a glória, tampouco um assunto de somenos importância. Estamos falando de uma coisa miúda chamada liberdade. A tal propalada liberdade de expressão que procuro utilizar bastante bem aqui, neste blog, nos sites em que, porventura, colaboro, nos trabalhos realizados como homem de teatro e professor, e, igualmente, dentro das redes sociais dentro das quais participo, sem nenhuma modéstia, ativamente.

No meu caso, rede social não é um pequeno entretenimento ao qual tenho acesso para mostrar as minhas vaidades e idiossincrasias. Nada, aliás, contra as idiossincrasias e as vaidades. Ocorre, entretanto, que penso diferentemente. As redes sociais, e, em alguma medida, a própria web, tornaram-se espaços para um maior convívio afetivo entre os homens, é verdade, além de ganharem uma dinâmica preciosa para compartilhamento de informações e conhecimentos. Um lugar (ou lugares) para se pensar sobre as relações entre os homens e para ruminarmos virtualmente algumas ideias.

E mais: a sua riqueza se faz a partir de uma demanda enquanto espaço plural, leitor atento, em que homens e mulheres conseguem efetivamente se corresponder e pensar novas perspectivas acerca de suas vidas, afetos, vivências, reflexões estéticas, políticas e de toda ordem do saber.

Assim, penso ser inadmissível quando essa manifestação se encontra tolhida por um pretexto que não se justifica a luz dos fatos, ou seja, por ter sido atacado por uma ação nefasta que visa espalhar mensagens e vírus à revelia de quem quer que seja.

Essa punição dá uma medida estranha, perversa, sobre um fenômeno cultural que precisa ser mais bem entendido e administrado por todos nós. Hoje aconteceu comigo, leitor amigo, pode amanhã acontecer com qualquer um outro.

Naquela altura, em meio à avalanche de mensagens espúrias, que saíam em meu nome pela rede social, lembrei-me dele: o velho e bom Asterix. E lembrei-me por sua luta contra uma força avassaladoramente maior do que ele.

E brindei, a cada ação do vírus, com a seguinte taça: na medida das minhas forças e talento, responderia com arte. E, vejam só como fui paciente, postei músicas como Eu não tenho nada a ver com isso, do Vinícius e Toquinho, Baioque, do Chico Buarque.

Mas não fiquei nisso. Foram ao ar imagens e comentários que diziam com humor, naquele compasso de quem anda sutil demais, a angústia de ser importunado insistentemente por uma ação absolutamente predatória.

Ao gerar transtornos absurdos, parecia promover efetivamente uma espécie de mal-estar generalizado e uma descrença no sujeito que teoricamente promovia aquilo. E, como toda descrença significativamente simbólica, lembrava àqueles atores sociais envolvidos – amigos, conhecidos e outros que nem sei o nome – de que a retórica do poder, qualquer poder, é implacável. Sempre.

Nesse sentido, ao ser removido de chofre de um convívio social e de trabalho, encontro-me naquela situação besta, do sujeito vigiado por forças infinitamente maiores do que ele, silenciosamente atentas, mas com enormes dificuldades em promoverem justiça, a mais simples dimensão do acordo entre os homens.

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“O jornalismo está defasado” / Entrevista com Eugênio Trivinho

Por Bruno de Pierro, do @rasilianas.org

Estamos vendo surgir uma nova modalidade de capitalismo com as redes sociais, segundo a qual as regras da comunicação não são mais ditadas pelo jornalismo. Além dos fatos que costuma abordar e perseguir, a prática jornalística está às voltas com o “sobrefato”, ou seja, a movimentação da sociedade dentro do espaço cibernético, da qual a produção simbólica do jornalismo é dependente. A avaliação é de Eugênio Trivinho, professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e assessor do CNPq, da CAPES e da FAPESP.

Considerado um dos principais nomes do estudo sobre a cibercultura, Trivinho falou ao Brasilianas.org por duas horas sobre as transformações da comunicação nas redes sociais e a defasagem do jornalismo para lidar com a nova ordem que se impõe. Para o professor, o que acontece é um “destronamento do jornalismo como instrumento de mediação simbólica da sociedade”, ao mesmo tempo que o real é reportado sem a necessidade da edição, perdendo-se, assim, o monopólio do jornalismo especializado.

Na conversa, Trivinho ainda explica o conceito de “glocalização”, em oposição à globalização. Para ele, o termo “glocal” pode explicar melhor o cenário estabelecido pela conexão da Internet, pois significa aquilo que une o global da rede no local de acesso. Por fim, Trivinho fala sobre como o modo de produção do saber na cibercultura tornou-se incompatível com os cânones da Ciência. Confira abaixo as principais partes da entrevista. A íntegra está disponível, em PDF, ou pode ser acessada por aqui.

Redes Sociais
No campo político, as redes sociais são uma espécie de epicentro articulatório de indivíduos que, a priori, são isolados, para fazer renascer alguma forma de movimentação na sociedade. E na sociedade pode ser dentro ou fora da rede. Essa forma de fazer política pode ser, muitas vezes, tão forte e envolvente que é capaz de se mobilizar e se fazer projeção contra o próprio aparato repressivo (cavalos, gás lacrimogêneo etc.).

Elas tem uma clara função econômica. São articuladoras de novas formas de empreendedorismo, que não estão vinculadas a certos padrões capitalistas. O fato de não haver, em alguns casos, contratação de mão de obra assalariada implica na recusa de certos pressupostos capitalistas, porque onde há emprego de mão de obra assalariada, há, evidentemente, produção de riqueza não repartida. Essa produção da mais-valia, que se reparte, na maior grandeza, para aquele que detém as condições de contratação, e a menor grandeza para aquele que apenas vende sua força de trabalho, sua competência cognitiva, sua habilidade profissional, a recusa e a ausência não configura, portanto, a existência daquele fio condutor que sempre animou o capitalismo, que foi a exploração de um ser humano por outro.

A outra dimensão que as redes sociais trazem, essa sim mais sutíl e bastante curiosa, é o fato de que diversas mega corporações, que portanto trabalham suas marcas ao nível transnacional – e que muitas vezes são redes sociais, Facebook, por exemplo – e que se valem do trabalho articulado de milhões, bilhões de pessoas ao redor do mundo, consideradas como capital humano, e que aderem a essa marca sem gastar um tostão. E justamente por isso valoram, semana a semana, mês a mês, ano a ano, a marca. É a exploração que não passa como exploração. É a exploração flexivel, sutil, imperceptível, obliterada de uma marca, que se gerencia como marca, que acolhe os consumidores – eles não precisam comprar nada no mercado.

Jornalismo
O jornalismo está agora em outro contexto, cujas regras não foram dadas por ele, e diante de um fato que se coloca bastante curioso: o jornalismo, além dos fatos que ele aborda e que ele persegue, está às voltas com o “sobrefato”, que é agora o caso das redes sociais. O jornalismo, que sempre dependeu de determinadas movimentações maquinais, tecnocráticas, uma parafernália de hardwares (satélites, televisores), agora tem a Internet. Mas o jornalismo não depende só da parte da parafernália da Internet, ele depende de uma movimentação interessante e que é da sociedade, dentro do ciberespaço e do qual o jornalismo e sua produção simbólica depende. Assim, o jornalismo está defasado em relação ao seu próprio contexto de inserção, exclusivamente relacionado ao modo de produção em tempo real. Ele precisa se adequar, espargindo as suas redes para fontes que agora não estão, senão, no universo das redes sociais.

E mesmo o jornalismo de rede precisa descobrir novas formas de articulação noticiosa, que necessariamente não se faz por contrato de trabalho, às vezes se dá por voluntariedade. Aí já estamos caindo na segunda forma de jornalismo, que é como nós podemos considerar o jornalismo de um modo mais aberto, ou seja, lato sensu. Jornalismo pode ser considerado como um modo de reportar o real e o social, o modo de reportar a vida. Com uma linguagem específica? Sim, mas não precisa ser única. E reportar falo em recriar, pois muitas vezes o fato nem existe. Às vezes é um factóide, criado pela própria notícia, e a notícia passa a ser o próprio fato. E as pessoas vão ler a notícia como sendo o próprio fato. É preciso deslocar a definição. E se jornalismo for reportar o real para outrem – a literatura faz isso, a poesia faz isso, o teatro faz isso -, então ele é uma modalidade de recriação desse real, para outrem, a partir de uma linguagem muito específica.

O jornalismo foi abolido como mediação simbólica, como escritura e re-escritura; as redes sociais fazem isso. O que ocorre é um destronamento do jornalismo como instrumento de mediação simbólica da sociedade e, ao mesmo tempo, uma forma de reportar o real, que tinha sua força, primeiro na inexistência de edição e, segundo, na colocação a público, de forma para compartilhamento, no momento em que o fato estava praticamente acontecendo.

Quebra do monopólio de informações
É uma forma de dizer “recusamos o monopólio da informação”, “recusamos a possibilidade de edição, que já opera uma auto-censura, e faz os produtos irem à população a partir de uma mediação reconstrutora, que pode ser uma maquiagem a respeito do que, de fato, aconteceu. O fato é bruto, sem mediação, exceto aquela das maquinárias e da vontade típica das próprias redes sociais. Essa quebra de monopólio não pode ser desconsiderada como um fato que já é conhecido, que vem acontecendo há pelo menos desde a criação dos computadores pessoais, nos anos 1970, 1980. Essa quebra de monopólio tem um fato novo: o fato agora é reportado por aqueles que o fazem ou que estão muito próximos dele, e que, muitas vezes, não tem ligação com as empresas jornalísticas mediadoras e simbólicas da sociedade.

Se nós considerarmos que jornalismo é produção simbólica de reportar o real, então temos que considerar fora do cânone acadêmico, universitário, técnico, que o que está acontecendo é um fato para o qual o jornalismo ainda não nasceu, ainda nem se deu conta. E mostra o quanto ele está defasado; ele está vendo a proliferação de fontes e não sabe o que faz com elas. O quanto ele está aturdido em relação a isso que comparece como modo de produção simbólica espontânea, de redes sociais comprometidas não somente politicamente, mas com o fato de que é necessário produzir sobre o social, sobre a vida, algo que seja mais autêntico, mais próximo do que são os fatos, do que o próprio jornalismo tem feito.

Produção do saber na Internet
A Internet traz um modo de produção do saber que não é, de alguma forma, compatível com aquele do cânone da ciência. O modo de produção do saber das redes sociais, e mesmo antes da web, com os modens, é o fato de que há quebra da linearidade, há uma emergência da aleatoriedade; o fato de você ter, no Huffington Post, repetitividade de certas expressões, e as pessoas não estão nem aí, esse é o modo aleatório de produção do saber. Você pode encontrar isso em vários lugares a mesma matéria, ou em meios diferentes, duplicadas em parte e continuadas a partir de um desenvolvimento diferenciado do que foi feito no outro dia. E aí você tem acesso a uma versão e depois você saber que existe uma outra versão mais desenvolvida, e alguém pergunta: “mas você leu essa matéria?”, e você responde: “li, mas estava relacionada à versão prévia”.

Esse tipo de produção do saber – e ao mesmo tempo comprometido com uma visualidade, com apresentação despreocupada em relação à questão da logicidade, em relação a não-repetitividade e aos cânones da lógica, da ontologia – é o que acaba, no fundo, colocando para nós que estamos nos relacionando com um fenômeno, cujos horizontes são tão abertos, e nós nem começamos a explorar, e em relação ao qual nós sequer temos elementos epistemológicos herdados para poder abordar. E eu falo de cátedra, pois eu pesquiso essas questões da cibercultura, que é um nome que considero importante para ser cobertura para a fase digital do capitalismo tardio. Quer dizer, eu tomo cibercultura como categoria de época.

O Híbrido e o Glocal
O híbrido é uma categoria terceira, que se opera a partir da junção irreversível entre duas constitutivas. E essa terceira não se reduz nem a uma, nem a outra. Por exemplo, o glocal, que não é nem global, nem local, é uma terceira coisa. Quando se diz aldeia global, em Marshall McLuhan, é algo presencial e circunscrito, e, ao mesmo tempo, global. Existe aí um paradoxo, uma anti-tese.

Quando você liga o seu celular, alguém liga e você atende, ou quando você abre seu tablet e está conectado, e mesmo quando você liga a televisão, você está na terceira grandeza, no contexto glocal. Significa que você não está nem no local, você está conectado em rede, e você não está nem na rede, porque o seu corpo está no local. Você está no híbrido, no meio. E nós não vivemos no meio.

O que você tem é uma mídia que glocaliza. Ela une a dimensão do global, com notícia que vem de todos os lugares, que perpassa o seu ponto de rede, e que chega no seu tablet, no seu rádio, televisão; mas que uma vez que chega até você, porque somos mercado, chega se entrelaçando com o local, e dele não se separa. De modo tal que o que vem da China, do cinturão Norte da África, de Wall Street, nos Estados Unidos, é mais íntimo para nós, quando chega em nossa tela, do que o que acontece na esquina. Então, há um fenômeno muito curioso, que é o de distanciamento do que é próximo e uma aproximação com o que é distante.

O ciberespaço
Estamos às voltas com uma fenomenologia diferenciada. A fenomenologia do ciberespaço, das redes, e também rádio, televisão, enfim, tudo o que se refere ao glocal traz consigo uma série de desafios que são inexplicados. E o horizonte é profundo, inesgotável, não vai terminar tão cedo. E nós precisamos dar conta, de alguma forma, disso. E a área de comunicação é uma área privilegiada, porque é com os fenômenos da comunicação que tudo isso tem mudado no social, mas, ao mesmo tempo, a comunicação tem instrumentos que herdou (metodológicos e epistemológicos) da sociologia, da antropologia, da ciência política, da história, da filosofia, e, ainda assim, não está preparada para poder abarcar, com profundidade e maior extensão, o fenômeno.

Crise de paradigma e Modernidade
A comunicação é partícipe e, ao mesmo tempo, receptáculo dessa crise de paradigma, que começa em meados do século XX, com o final da Segunda Guerra e a liberação de grandes forças tecnológicas, científicas e econômicas. Liberação em termos de aceleração completa. Estamos vivendo, agora, o estressamento dessa onda de longa duração. Ninguém aguenta mais tanta aceleração, tanta vida articulada pela lógica da velocidade. Para tudo temos que correr, qualquer produção. E nós somos julgados e avaliados em função da produtividade que fazemos em menos tempo. O jornalismo diário, e o semanal também, é uma loucura, porque você precisa dar conta do tacape do tempo. Então, a partir dessa época [meados do século XX], ocorreu o que os historiadores teóricos vem tratando como Ocaso da Modernidade e a emergência de alguma coisa que se pode chamar de “pós”: pós-industrial, pós-moderno, e até falaram em pós-capitalismo.

Aí começa uma sensação, desde o senso comum até a Ciência, passando por outras formas de produção simbólica na sociedade, e a principal delas é a jornalística, de que nós já não sabíamos mais nomear que tipo de civilização era aquela que estávamos vivendo. E essa quebra de paradigma vinha justamente pelo fato de que já não se podia mais acreditar nas metanarrativas, nas utopias ou grandes visões de mundo, porque foram elas que nos levaram à hecatombe. Foi o liberalismo pelo capitalismo, foi o nazismo pelo Terceiro Reich, foi o comunismo stalinista, pela burocracia soviética, que nos levaram a um beco sem saída: a Segunda Guerra, que aplicou, para destruição, todos os recursos do século XVIII, ou desenvolvidos, a partir dele, para emancipar o gênero humano do obscurantismo, da miséria. A Razão, a Ciência e a Técnica foram barganhadas para a destruição massificada, inclusive, depois daquela bomba, vieram outras ogivas, no ápice da Guerra Fria, capazes de destruir o planeta. Alguma coisa tinha que parar esse filme, que era o conto da carochinha do progresso tecnológico. A modernidade acabou se realizando pela sua sombra. Não foi a modernidade prevista, da liberdade, da distribuição da riqueza.

As ciências, cada qual no seu ramo, desenvolviam-se em função de uma narrativa de emancipação, todas elas cooperavam para trazer luz, para que o ser humano pudesse, através do conhecimento, da superação das doenças, da superação da miséria, das superstições, a luz da ciência, a luz da Razão, para que a humanidade pudesse prosperar em conjunto. As ciências trabalhavam em função de uma metanarrativa; ou era o marxismo, ou era o liberalismo, ou o humanismo. De repente, perdemos os referenciais primeiros. Cada ciência começou a operar por conta própria, começou a olhar para dentro de si, e a se desenvolver segundo um método, que é desenvolver-se em congressos específicos. Uma não se comunica com a outra, e a idéia de interdisciplinaridade começou a ser bastante artificial.

Comunicação como modus vivendi
A comunicação é muito mais do que um campo de trabalho, um campo de saber e é muito mais do que o conjunto dos aparatos da sociedade, muito mais do que a nossa intencionalidade de chegar ao outro e dizer alguma coisa. Ela é, hoje, prótese invisível do inconsciente. Ela é hoje modus vivendi. Muniz Sodré, professor da UFRJ, em um livro chamado Antropológica do Espelho, diz que comunicação é bios, gera hábitos. Então, ela faz parte e se beneficiou da quebra de paradigma, porque ela, a comunicação, desde os anos 1940, 1950, com a cibernética, acabou por se colocar como uma nova utopia. Ela se serviu do vazio deixado pelas utopias políticas e filosóficas, econômicas e religiosas, e ela se colocou como o novo religare, uma nova forma de articular a vida das pessoas. Hoje é preciso ter pela atendente bancária que haja um treinamento, de recursos humanos, para ela aprender a ter inteligência emocional na situação de estresse e, ao mesmo tempo, sorrir. Porque isso é comunicação da marca, é comunicação da empresa. A comunicação se prevaleceu da crise de paradigma.

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Outras Palavras atacado: como estamos reagindo

Recebemos de Antonio Martins, editor do Outras Palavras, nova mensagem informando como o site da revista está reagindo ao ataque sofrido na noite de sábado.

Aproveitamos para compartilhar essa situação e reiterar a  nossa solidariedade.

Segue a mensagem na íntegra.

Theotonio de Paiva

Páginas devem voltar ao ar até terça-feira. Agressão revela métodos de quem não tolera liberdade de expressão. Em breve, novidades editoriais e plano para criar rede de apoiadores

É provável que, em algum momento, nas próximas 24 horas, os sites de Outras Palavras voltem ao ar. Os vírus que haviam sido implantados em nossos servidores no final da noite de sábado (veja mensagem que enviamos ontem, ou notícia em nossa página do Facebook) foram removidos – aparentemente, por completo. Uma nova varredura foi solicitada ao Google, para que constate o fim da invasão e deixe de enviar alertas a quem visita www.outraspalavras.net. Um trabalho suplementar, de correção de eventuais sequelas e tentativa de identificar os agressores, começará assim que for possível visualizar o estado de nossas bases de dados e a aparência dos sites.

O que foi possível apurar até agora ajuda a compreender como agem, na internet, os que temem a liberdade de expressão. A partir das primeiras horas desta segunda-feira (9/7), o Google forneceu uma primeira relação de 26 páginas de Outras Palavras que haviam sido infectadas, cerca de 24 horas antes. A tática dos agressores foi tirar o site do ar por meios indiretos. Eles introduziram, em nossos códigos, programação que pode contaminar os computadores de quem busca nossas informações e análises. Sabiam que, em seguida, estas ameaças seriam detectadas e, na prática, bloqueariam o acesso a nosso conteúdo. Quem se atreve a visitar um espaço na web qualquer, ao de ser avisado de que “www.outraspalavras contém malware. Seu computador pode ser infectado por um vírus, se você visitar este site”?

Mas de onde vieram os ataques? Por volta das 23h de sábado, minutos depois de constatada a invasão, solicitamos de nosso atual serviço de hospedagem (o Dreamhost) uma varredura em todos os nossos bancos de dados. A resposta chegou na tarde desta segunda, na forma de um vasto relatório. Ele revela que, nos últimos trinta dias, o espaço interno de administração do site foi acessado a partir de sete pontos na internet (IPs): três deles estão no Brasil, como é natural. Porém, há também acessos feitos da França, Grã-Bretanha e Lituânia. “Isso pode indicar que suas senhas foram invadidas”, diz Dreamhost. Para nós, é algo óbvio. Nenhuma das pessoas autorizadas a fazer intervenções importantes na arquitetura de Outras Palavras reside ou passou por nenhum destes três países, no último mês. Ou os invasores estão lá; ou usaram, como disfarce, sistemas que despistam sua origem.

Como nossas senhas foram roubadas? O próprio relatório do Dreamhost ajuda a entender. Uma das brechas mais prováveis são os computadores que usamos para alimentar os sites. Se algum deles tiver sido infectado por um vírus do tipo cavalo-de-tróia, a senha de acesso aos sites pode ter-se tornado vulnerável.

O ataque ajuda a identificar nossos calcanhares-de-aquiles. Lançado há pouco mais de dois anos, Outras Palavras cresceu rapidamente. Sua audiência está próxima de 5 mil leitores/dia. Atingimos a meta sem concessões. Mantemos um esforço permanente pela profundidade, por destacar o que os grandes meios esforçam-se em ocultar, por buscar ângulos inéditos e surpreendentes em nossas análises, por valorizar soluções estéticas inovadoras nas imagens e desenho gráfico. Mas nossa estrutura financeira e material ainda é frágil – em parte, porque todo o trabalho concentrou-se, nestes dois anos, na busca de qualidade editorial.

Agimos para superar estas lacunas. Precisamente em julho, mês em que sofremos o ataque, estamos iniciando uma nova ampliação editorial e um plano para dar sustentabilidade material ao site. Desde 2/7, uma equipe de cinco novos colaboradores está em nossa redação, conhecendo os meandros de Outras Palavras.. São jovens (entre 20 e 25 anos), ágeis e rápid@s. Em breve, começarão a produzir. Além de textos, a concretização de uma mudança gráfica; a criação de uma web-TV; a formação de uma rede de apoio e participação no site que buscará envolver nossos leitores.

Dezenas de pessoas responderam, desde domingo à noite, à primeira mensagem em que relatamos a agressão sofrida. Em alguns casos, transmitiram sugestões que estão sendo úteis no resgate; em muitos outros, comunicaram seu apoio ao trabalho que fazemos e sua confiança na recuperação do material produzido. Este apoio foi e será cada vez mais importante.

A invasão é desagradável e dispersa momentaneamente energias, mas passará em breve – mesmo que seus efeitos tenham sido maiores do que supomos. Quando você puder acessarwww.outraspalavras.net sem receber alerta de vírus, os inimigos da liberdade de expressão terão sido derrotados mais uma vez. O ritmo de nossas atualizações vai diminuir, nos primeiros dias após o choque. Mas voltaremos muito mais fortes, em seguida – e, em especial, mais capazes de envolver, em Outras Palavras, gente que quer batalhar de forma ativa por outra comunicação e outro mundo.

Mando, em nome de toda a equipe, nosso abraço afetuoso

Antonio Martins
Editor

“OUTRAS PALAVRAS” ATACADO

Recebemos de Antonio Martins, editor do Outras Palavras, a confirmação de que o site da revista está sofrendo algum tipo de ataque.

Aproveitamos para difundir a informação e prestar a nossa solidariedade.

Segue a mensagem na íntegra.

Theotonio de Paiva

Amig@s,
Desde as 22h30 deste sábado (7/7), Outras Palavras está sofrendo algum tipo de ataque, cuja natureza ainda não foi possível ainda identificar em detalhes.
Neste horário, quando preparávamos novas atualizações, a entrada no site foi bloqueada por um aviso do Google, que detecta infecção por vírus. A notificação é incompleta. Aparentemente, fomos contaminados por material distribuído pelo site http://oxsanasiberians.com — dedicado à criação de gatos de raças exóticas.
Um diagnóstico mais fino, recomendado pelo próprio Google, informa que “Em alguns casos, os códigos maliciosos podem ser adicionados por terceiros a sites legítimos, o que pode fazer com que a mensagem de aviso seja exibida”. É muito revelador, mas não vai além disso.
Em São Paulo, estamos no meio de um feriado de três dias. Os programadores que nos socorrem, acionados, não puderam responder. Também está silente, até agora, o Dreamhost, servidor que hospeda nossos bancos de dados.
página do Google para webmasters oferece sugestões sobre como verificar, em detalhes, a infecção. Mas são instruções para alguém com conhecimento específico maior que o de nossa redação de jornalistas. Será uma satisfação se pudermos contar com apoio de leitores / apoiadores capazes. Basta escrever para antonio@outraspalavras.net ou chamar (11) 8401.6311. Enquanto o problema persistir, sugerimos (com pesar) que vocês evitem, por enquanto, acessar nossas páginas. Voltaremos em breve, com muitas novidades editoriais.
Abraço forte,
Antonio Martins, editor